Despertar o desejo do consumidor é regra na indústria automotiva. Praticamente todo carro que se preze traz uma versão no topo da gama que representa o máximo que a marca pode fazer com aquele modelo. São as versões “Titanium”, “Absolute”, “Highline” ou “Premium”, sobrenomes pomposos dados a veículos que povoam as publicidades – mas raramente são vistos nas ruas do país. Só que nem todo carro atinge na tecnologia ou no luxo o seu potencial máximo. O Fiat 500, por exemplo, até tem essas características. Mas nenhuma delas passa perto do apelo estético do carrinho retrô. Exatamente por isso, o 500 mais carismático não é uma versão super-equipada ou com motor maior. É a Cabrio, que traz um charmoso teto de lona retrátil. E que amplia drasticamente a capacidade do subcompacto da Fiat de conquistar qualquer um que ande nele.
Apesar da óbvia capacidade do 500C em atrair olhares e atenção por onde quer que passe, a Fiat – estranhamente – não dá muita bola para o carro. As peças de propaganda do 500 geralmente são ilustradas pela versão de entrada, a Cult, sempre acompanhada da expressão “a partir de” e o chamativo preço de R$ 42.840.
O apelo do conversível, por sua vez, passa bem longe dos frios números na etiqueta de preços. A essência do visual é aquela que já serve como base para as outras versões do 500, com algumas restrições em termos de pintura – são quatro opções no Cabrio contra sete variações nos fechados. O toque extra fica por conta da simpaticíssima capota retrátil de lona. Diferentemente dos conversíveis tradicionais, as colunas traseira e central continuam no lugar quando o teto é rebatido. Na prática, é como se fosse um teto solar que rebate até o vidro traseiro. Sistema muito mais simples e barato de produzir do que um com engrenagens que escondam um teto rígido, por exemplo. O tecido da capota, aliás, pode ser pintado em preto ou vermelho.
No resto, o Cabrio é basicamente um “Cinquecento” como outro qualquer. Ele é baseado no Lounge Air, versão que inclusive parou de ser importada na linha 2013 do subcompacto. Isso significa que, mesmo para um carro pequenino, ele traz uma lista de equipamentos difícil de ser encontrada no Brasil. O pacote de segurança inclui airbags frontais e laterais, ABS, controles de tração e estabilidade e assistente de partida em ladeiras. Entre os itens de conforto estão o ar-condicionado, direção elétrica com dois “pesos”, computador de bordo, trio elétrico, rádio/CD/MP3, sensor de estacionamento, cruise control e rodas de liga leve de 15 polegadas. Os opcionais incluem airbags de cortina e de joelho para o motorista, pintura metálica e um pacote com revestimento em couro, rádio com Bluetooth/USB e ar digital.
Assim como a lista de equipamentos, a parte mecânica é idêntica ao finado Lounge Air e ao atual Sport Air. Isso inclui o motor 1.4 MultiAir, que bebe apenas gasolina. O sobrenome do propulsor é por causa de um sistema eletro-hidráulico para o comando das válvulas de admissão e que permite um ajuste mais fino da entrada de ar na câmara de combustão, dependendo da necessidade. A ideia é deixar a mistura mais adequada para cada situação específica. Ele gera 105 cv e 13,6 kgfm de torque. O motor, por sinal, vai ser atualizado em breve para aceitar também etanol no tanque. A novidade deve chegar às lojas no final de julho. No conversível, vem sempre aliado a uma transmissão automática – não é a automatizada Dualogic – de seis marchas. Juntos, levam o subcompacto a 100 km/h em 12,6 segundos e a máxima de 179 km/h.
Apesar de ser consideravelmente mais caro que a versão de entrada, o 500C não abandona totalmente o apelo mercadológico. Afinal, por R$ 60.200 – R$ 66.898 completo – é de longe o conversível mais barato do país, cerca de R$ 10 mil mais em conta que o minúsculo Smart Fortwo. Evidentemente, por ser a configuração mais cara, é exatamente a menos vendida do 500, com apenas 7% do mix. Em termos absolutos, são cerca de 50 emplacamentos mensais. Longe da pretensão de ser um “best seller”, o 500C é mesmo um brinquedo para poucos.
Ponto a ponto
Desempenho – O 500C não tem qualquer pretensão de ser um carro rápido. O trem de força tem capacidade apenas para dar um desempenho satisfatório ao pequeno modelo da Fiat. O motor 1.4 MultiAir é suave e gosta de girar alto. O torque aparece em rotações médias, mas não há qualquer aceleração brusca. Tudo é feito de maneira progressiva e comportada. As dimensões compactas e o peso baixo ajudam o 500C a se manter junto com o fluxo do trânsito sem grandes problemas. A transmissão automática de seis marchas faz trocas rápidas e forma um conjunto entrosado com o propulsor. Nota 7.
Estabilidade – O 500C é um carro para ser usado de maneira tranquila, sem esportividade exacerbada. É um veículo para quem gosta de ver e de ser visto. E a suspensão segue esse conceito. Tem acerto macio, claramente mais voltado para o conforto. Porém, a reduzida massa além dos eixos permite que todo o peso do pequeno conversível fique sobre as rodas. Assim, há boa aderência e, apesar das rolagens de carroceria, não existem grandes falhas na dirigibilidade. Nota 7.
Interatividade – O painel do conversível é idêntico ao do hatch comum. Ou seja, comandos de rádio e ar-condicionado todos à mão e muito bem colocados, bancos e volante com ajustes amplos. O mesmo se aplica ao painel de instrumentos do 500. A Fiat optou por um layout de círculos concêntricos em que o computador de bordo fica dentro do conta-giros, que por sua vez fica dentro do velocímetro. É um desenho bonito, mas extremamente confuso. A visibilidade dianteira é boa. Atrás, porém, o pequeno vidro não ajuda muito. E fica pior quando o teto é rebaixado quando não dá para ver absolutamente nada pelo retrovisor interno. Nota 7.
Consumo – O InMetro não fez medições das versões com motor MultiAir do Fiat 500. O computador de bordo, no entanto, deu dados animadores. Marcou a média de 9,2 km/l de gasolina em trajeto misto. Nota 8.
Conforto – Não tem jeito. O 500 é um carro para dois adultos. Na parte de trás, só vão duas crianças. Na frente, o espaço e os bancos possibilitam boa dose de conforto, assim como a macia suspensão que absorve parte da buraqueira. O isolamento acústico é bem eficiente e preserva o interior dos ruídos de motor e de rodagem. O grande destaque, evidentemente, é o teto retrátil, que até faz esquecer a falta de espaço interno. Nota 8.
Tecnologia – O Fiat 500 oferece um conjunto interessante. O motor 1.4 MultiAir não é um poço de potência, porém, é moderno e se alia bem à proposta do carro. E ainda entrega um consumo de combustível satisfatório. A plataforma é de 2007 e ainda é eficiente e moderna. O mesmo pode se dizer da lista de equipamentos. Não há um sistema de som de última geração, por exemplo, mas a opção de sete airbags é rara para carros nessa faixa de preço.Nota 9.
Habitabilidade – Há um belo porta-objetos no console central do 500. Ali, dá para guardar uma grande variedade de quinquilharias sem grandes problemas. Entrar e sair não é um grande problema para o pequeno mexicano. Há dificuldade apenas para acessar os assentos traseiros, um pouco afundados ali atrás. O porta-malas é ainda menor em relação ao 500 fechado. São apenas 153 litros. Nota 7.
Acabamento – O 500 apela mais para o estético do que propriamente para uma cabine extremamente bem acabada. O painel tem uma grande peça de plástico na cor da carroceria que é agradável ao toque e bem encaixada. No resto, há um plástico rugoso de menor qualidade. Nada, no entanto, que tire a agradável sensação de estar dentro do pequeno conversível. Nota 7.
Design – Mais ainda que no modelo fechado, o design é o grande diferencial do 500C. Exterior e interior abusam de linhas retrôs de extremo bom gosto e harmonia. Tudo melhorado pelo charmoso teto de lona rebatível que leva o apelo estético do subcompacto à outro nível. Nota 9.
Custo/benefício – O 500C é – por muito – o conversível mais barato do Brasil. Com preço inicial de R$ 60.200, o único que se aproxima vagamente dele é o Smart Fortwo, por R$ 72.650. Sem falar que o Fiat é mais espaçoso e muito mais confortável. Na comparação com carros mais “sérios”, o 500C também vai bem. Não é muito caro – se equipara a alguns sedãs médios de entrada, por exemplo – e oferece um retorno que raros em sua faixa de preço conseguem dar: um sorriso no rosto de quem dirige. Além de muitos sorrisos nos rostos de quem o vê passar. Nota 8.
Total – Fiat 500C somou 77 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Fascínio ao vento
Poucos carros traduzem tão bem a essência dos “funcars” como o Fiat 500C. Já do lado de fora, é óbvio o apelo que o carrinho tem. As formas retrô que já agradam bastante no modelo fechado parecem ainda mais chamativas com a capota de lona. Nada se compara, no entanto, a ligar o carro, rebaixar a capota ao máximo e curtir um passeio no Cabrio.
É difícil ficar de “cara feia” à bordo do 500C. E não é propriamente por causa do conjunto mecânico. O motor 1.4 MultiAir e a transmissão automática são competentes, mas não induzem a qualquer exagero na direção. Diferentemente da maioria dos funcars, o pequeno Fiat é feito para ser guiado com calma, sem pressa. Nada de acelerações brutais e altas velocidades, como Volkswagen Fusca e Citroën DS3. É conduzido de maneira pacata que o 500C fica mais conquistador. A junção da carroceria pequena, o painel no estilo retrô com pintura na cor da carroceria e o vento batendo no rosto é algo extremamente agradável. E é sempre lúdico estar a bordo de um carro, olhar para cima e não ter nada além de céu sobre a cabeça.
Mas o 500C não é um conversível comum. Ele mantém as colunas centrais e traseiras e não rebate o teto por completo. Surpreendentemente, essa falha se mostra até interessante sob certo aspecto. É que mesmo com a capota o mais rebatida possível, se cria um ambiente minimamente reservado na cabine. Existe uma sensação de privacidade que a maioria dos outros conversíveis não tem. Isso instiga a abaixar mais vezes o teto, já que há menos medo – ou pudor – de se expor.
O conforto que a ausência de teto proporciona é ampliado pelas outras qualidades do 500. Dentro da cabine, há espaço para apenas dois adultos que tem “vida boa”. Os bancos de couro têm apoios laterais e seguram bem o corpo. A suspensão é macia e qualquer curva mais fechada implica em rolagens de carroceria acentuadas. Por outro lado, não há problemas na hora da enfrentar uma buraqueira.
Em essência, não é preciso andar rápido ou explorar os limites de aderência para ter a experiência completa do Cabrio. Como qualquer conversível, basta um dia de sol, a capota rebaixada e uma bela paisagem. A grande sacada do 500C é fazer tudo isso com ainda mais charme e por R$ 60 mil. Mesmo valor de um entediante e monótono sedã médio.
Ficha técnica
Fiat 500C
Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 1.368 cm³, com quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro, comando variável de válvulas na admissão e comando simples no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle de tração.
Potência máxima: 105 cv a 6 mil rpm.
Torque máximo: 13,6 kgfm a 4.250 rpm.
Aceleração de 0 a 100 km/h: 12 segundos com gasolina e etanol.
Velocidade máxima: 179 km/h.
Diâmetro e curso: 72,0 mm X 84,0 mm. Taxa de compressão: 10,8:1.
Suspensão: McPherson com rodas independentes, braços oscilantes inferiores a geometria triangular e barra estabilizadora. Traseira do tipo semi-independente, eixo de torção, com barra estabilizadora. Oferece controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 185/55 R15.
Freios: Discos ventilados na frente e discos sólidos atrás. Oferece ABS com EBD e BAS.
Carroceria: Conversível compacto em monobloco com duas portas e quatro lugares. Com 3,54 metros de comprimento, 1,62 m de largura, 1,50 m de altura e 2,30 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais e laterais de série.
Peso: 1.153 kg.
Capacidade do porta-malas: 185.
Tanque de combustível: 40 litros.
Produção: Toluca, México.
Itens de série: Ar-condicionado, direção elétrica de dois estágios, controle de estabilidade e tração, airbags frontais e laterais, ABS com EBD e BAS, assistente de partida em ladeiras, volante revestido em couro, rádio/CD/MP3, apoio de braço central, computador de bordo, faróis de neblina, trio elétrico, cruise control, rodas de liga leve de 15 polegadas, banco do motorista e volante com regulagem de altura e sensor de estacionamento traseiro.
Preço: R$ 60.200.
Opcionais: Airbags de cortina e de joelho para o motorista, pintura metálica, revestimento em couro, rádio com Bluetooth/USB, ar digital e pintura do teto.
Preço completo: R$ 66.898.